segunda-feira, 14 de março de 2011

Memórias de outrém

“Os seus cabelos loiros estavam cuidadosamente entrançados. O seu olhar vagueava à minha volta. Parecia não querer olhar propositadamente para mim. Isso incomodava-me. Eu queria que ela olhasse para mim, que sorrisse e me abraçasse. Eu queria sentir os seus olhos azuis a incidir em mim!
-Florence? – Chamei, timidamente.
Florence fingiu ter apenas reparado em mim no momento em que proferi o seu nome.
-George? Diz. – A sua voz estava um pouco distante.
Eu sentei-me no muro de pedras que havia no bosque. Ela imitou-me.
-Eu não te quero perder. – Sussurrei-lhe ao ouvido.
O seu olhar ganhou vida perante as minhas palavras. Pousei a minha mão sobre a sua e inclinei a cabeça. Lutei contra comigo próprio para fechar os olhos. Recusava-me a perder todos os segundos da sua beleza. Com vontade e força fechei os olhos e deixei os meus ouvidos deleitarem-se com o prazer de me guiarem. Conseguia ouvir o coração de Florence a acelerar. Isso queria dizer que ela estava igualmente ansiosa, como eu. Eu nunca tinha beijado ninguém… E Florence era o que mais se assemelhava a uma namorada de infância. Sonhava todas as noites com aqueles lábios carnudos, com aqueles límpidos olhos azuis… Andava a enlouquecer. Tudo o que precisava era de um beijo, mentalizei-me. E era isso que eu estava a tentar fazer. Estava a tentar curar-me com o beijo dela.”

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