sexta-feira, 18 de março de 2011

Conclusões pessoais

Tem sempre orgulho em ti própria/o e nunca te deixes rebaixar. Sê forte e corajosa/o. Segue o teu coração. Diz sempre o que pensas, não te deixes apagar. Ama-te, porque se não te amares, mais ninguém o fará. Pensa por ti, não deixes que pensem por ti. Toma as tuas decisões, esforça-te e trabalha. Não é por calares que serás alguém, é por seres honesta/o contigo própria/o que chegarás longe.

segunda-feira, 14 de março de 2011

Memórias de outrém

“Os seus cabelos loiros estavam cuidadosamente entrançados. O seu olhar vagueava à minha volta. Parecia não querer olhar propositadamente para mim. Isso incomodava-me. Eu queria que ela olhasse para mim, que sorrisse e me abraçasse. Eu queria sentir os seus olhos azuis a incidir em mim!
-Florence? – Chamei, timidamente.
Florence fingiu ter apenas reparado em mim no momento em que proferi o seu nome.
-George? Diz. – A sua voz estava um pouco distante.
Eu sentei-me no muro de pedras que havia no bosque. Ela imitou-me.
-Eu não te quero perder. – Sussurrei-lhe ao ouvido.
O seu olhar ganhou vida perante as minhas palavras. Pousei a minha mão sobre a sua e inclinei a cabeça. Lutei contra comigo próprio para fechar os olhos. Recusava-me a perder todos os segundos da sua beleza. Com vontade e força fechei os olhos e deixei os meus ouvidos deleitarem-se com o prazer de me guiarem. Conseguia ouvir o coração de Florence a acelerar. Isso queria dizer que ela estava igualmente ansiosa, como eu. Eu nunca tinha beijado ninguém… E Florence era o que mais se assemelhava a uma namorada de infância. Sonhava todas as noites com aqueles lábios carnudos, com aqueles límpidos olhos azuis… Andava a enlouquecer. Tudo o que precisava era de um beijo, mentalizei-me. E era isso que eu estava a tentar fazer. Estava a tentar curar-me com o beijo dela.”

domingo, 13 de março de 2011

Carta para um ex-namorado

Para te fazer rir, miúda <3

Caro prestes-a-ser-ex-namorado,

Venho por este meio informá-lo do quão insatisfeita me encontro relativamente à nossa relação. É muito complicado gerir uma relação à distância, principalmente quando uma das partes não colabora, pelo que a relação tornou-se insustentável. Connosco "longe da vista, perto do coração " aparentemente não se verificou. Gostaria, de portanto, comunicar-lhe do que, a meu ver, correu mal:
  • Há vários aspectos que poderiam ter sido limados e posteriormente evitado muitos problemas, sendo a comunicação um deles. Acredito que não saiba como expressar sentimentos na forma de palavras, ou ideias, mas em qualquer situação do quotidiano irá necessitar desta ferramenta para se poder exprimir. Os seus níveis nesta área são bastante baixos, pelo que não vejo grande futuro para si, a não ser que comece a valorizar a comunicação e se comece a exprimir.
  • Gostaria que tivesse tido em consideração os sentimentos desta que tanto lhe dedicou. Sacrifiquei bastante de mim para o deixar mais à vontade. Infelizmente nunca valorizou os meus sacrifícios.
  • Compreendo que por vezes tenha sido complicado encontrar-se comigo e colaborar em actividades comuns, pois nem sempre é fácil ceder. No entanto, sempre o tive em grande estima e tudo tentei para o fazer feliz. É por este motivo que não compreendo o porquê de não se interessar mais em facultar-me uma explicação para o sucedido. Creio que a mereço pois fui capaz de suportar os seus defeitos e manias mais estranhas durante vários anos.
Espero que tenha a maturidade para ser capaz de conversar comigo e apresentar-me as razões que, a seu ver, o levaram a rejeitar uma relação com potencialidades.  Quando tiver disponibilidade, faça o favor de contactar a minha secretária com vista a agendarmos um dia para mantermos uma conversa serena e agradável. Apesar de agradável ser algo que não consta do seu dicionário, creio que um dia, após muito esforço e alguma maturidade, será capaz de atingir o nível mínimo para ser considerado "agradável". Mas deixemo-nos de devaneios.
Caso não se sinta confortável com a ideia de uma conversa a dois, agradecia que me contactasse de algum modo e me informasse da sua decisão, para poder avançar e poder -ao contrário de si - manifestar interesses românticos por outros indíviduos do sexo masculino sem correr o risco de ser considerada uma mulher sem carácter.

Atenciosamente,

Elisa

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Azul

                O castanho dos olhos dela não combina com o azul dos olhos dele. Aliás, nada combina com o castanho dela. Mas ela não se importa: o castanho dela é avelã. Não é escuro, é antes como chocolate-leite. Terno e doce. O azul dele é o céu num dia de Verão, é apelativo. Não é aquele azul cortante, antes aquele que dá vontade de ter um pouco por perto. É amigável, suave, como algodão doce. Os olhos dele assemelham-se a um céu.
Ela é tão diferente dele...  Seja devido à confusão dela, o seu lado escuro que roça sempre a inocência e a ingenuidade, apesar dessas duas características não fazerem parte dela há muito tempo. Ela nunca soube porquê, mas ela sempre teve consciência do que a rodeava. Sentia-se capaz de compreender o mundo dos adultos desde pequena e sempre teve noção que a felicidade é… uma ilusão.
Para além de toda a escuridão que se insinua nela, ela também sempre soube que, no início, há sempre a promessa que vai ser diferente. Mas é sempre igual. Inícios diferentes com fins semelhantes… Porque o percurso pode ser diferente, mas o fim, esse é sempre igual. O fim implica corações partidos. Lágrimas derramadas. Dores psicológicas que custam mais a sarar que as físicas. Não que ela se importe. Não. É mesmo isso que a faz sentir-se viva. A consciência de que o mundo ainda lhe é capaz de infligir dor. A partir do momento em que a dor desaparecer, ela apenas pode supor que está a morrer. E ela não quer morrer. Não ainda, não enquanto parece que é capaz de grandes feitos.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Término. Ou recomeço?

Ele era tão pesado para ela. Tão desesperadamente asfixiante. As necessidades dela eram suprimidas em função de tentar obter dele um aceno de satisfação. Uma busca incessante pelo seu afecto e aceitação… Elisa amou-o de uma maneira descontrolada. Mas nada era suficiente; ele nunca correspondia da maneira que ela desejava. E ela sabia que Duarte se sentia tão asfixiado como ela… Com tanta dificuldade em se mover como ela. Preso em areia movediça. Ele tentava-se esforçar, mas não via o porquê de o fazer. No fim, haveria sempre algum problema que traria por água os esforços dele em tentar parecer mais… humano. A humanidade de Duarte perdeu-se algures com a sua infância. Ou talvez nunca tenha tido essa característica, não se sabe. Para ela era estranho alguém não sentir compaixão da mesma maneira avassaladora que ela sentia mas… Elisa admitia que era de ímpetos e chamas violentas. Nada nela era calmo e sossegado e ela era uma fera difícil de domar.
Elisa sentia pena por a relação não ter resultado. Não porque ela ainda o amasse, não, ela sabia que aquele amor que vinha em tsunamis violentos já se tinha sumido e reduzido a uma pequena ondulação… Não o amava, não o queria, não o desejava sequer.
A base da relação deles, o desejo, sumiu-se. Ela via-o como ser humano que Duarte era, e não como objecto do seu desejo que ele tinha sido outrora. Com um misto de emoções, que Elisa nem sabia bem identificar, ela afirmava que tinha sido bom, enquanto tinha durado. Apesar de tudo, a relação não tinha durado até ela ter acabado. Infelizmente, eles já estavam acabados um pouco antes. Mas ela sabia que ele tinha consciência disso.
                Sentir. Ele sentir coisas. Só a ideia de que Duarte efectivamente tinha sentido dor, provoca-lhe tristeza. Elisa sempre sentira que ele era frágil. Nunca tinha sido intenção dela magoa-lo dessa forma. Elisa recordava-se do olhar dele de dor. E o olhar de dor dele, foi o olhar mais sincero, mais honesto, mais… cru que alguma vez ela tinha visto na vida. 
               O olhar mais cru. Não era falso, como por vezes ambos eram um com o outro. Era um olhar sem qualquer tipo de preparação… Duarte não esperava dela aquela atitude, não esperava que Elisa fosse capaz de terminar a fonte de prazer momentâneo “posso-te mostrar que te amo se me deixares”. Mas foi, e não se arrependeu… Pois ele permitiu-lhe subir um degrau na sua escadaria em busca da maturidade.
 “E… obrigado por isso. Espero que sejas feliz.” , murmurou ela.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Complexidade

            Sou um tornado de emoções complexas e difíceis de segurar.
Por vezes dou por mim à procura de um sítio onde eu possa ser eu própria. Nem sempre o encontro. E sempre que o encontro, o momento é sempre tão curto, essa felicidade de encontrar casa é tão efémera, que a tristeza assola imediatamente a minha alma.
Ultrapassar essa tristeza é difícil. Nem sempre quero sair da minha casca. Além disso, lutar custa. Lutar contra mim própria é uma batalha que eu nunca pensei que teria que travar… Até ao momento em que compreendi que eu estava danificada, estragada, inviável. Agora, tenho que me contornar todos os dias. Evitar os meus pequenos acessos de fúria, os meus pequenos pecados, as minhas pequenas dores. E sinto que pouca gente entende o esforço desumano que é necessário para inverter a minha ordem natural de processamento. Sinto que sou muito diferente dos outros. E que seria capaz de mais e melhor se não fosse tão… eu. Se fosse mais calma, mais despegada da vida.
                Sou capaz de tanta coisa. Inventar o meu mundo pequenino. Prender-me lá dentro e esconder-me de todas as coisas más. Queres-te juntar ao meu mundo? Construir uma cidade lá dentro, a partir de pensamentos bonitos e calmos. Evitar catástrofes pessoais, acalmar a minha ânsia de mais e mais. Tranquilidade.
                Mas eu sou tão instável. Sou como plasticina. Estou constantemente em mudança. Em plena metamorfose diária. As minhas emoções oscilam à medida que o dia avança, raramente consigo ter estabilidade emocional. Sou profunda, complicada e desconcertante. Os meus pensamentos são sempre retorcidos, divididos em metades e escondidos em locais diferentes do meu cérebro e coração. Estes meus dois órgãos, cruciais para a minha existência estão desfasados. Não agem como um só. O meu cérebro, que é o meu compasso racional, a minha melodia monótona que me acalma em momentos turbulentos, mantém-me à tona sempre que preciso. O meu coração está constantemente a ser colado e partido. Todos os dias parte-se, rasga-se e destrói-se e sempre que me recolho e afasto do foco de dor, tenho a minha Super-cola, e concerto esses bocadinhos que ficaram partidos. Mas não posso exigir tanto de mim, certo? E nem sempre consigo colar tudo direitinho. O resultado é um coração mal remendado que cede facilmente a tudo. E eu não me controlo lá muito bem. Sou criativa, e imatura. Tenho acessos de criatividade, em que mal me consigo controlar, preciso de escrever, sentir, tocar, ouvir, ler, estender-me para além dos meus limites físicos e sentir o que me rodeia. Sinto-me incapaz de lidar comigo própria e com os outros. Por vezes sinto necessidade de me afastar de mim própria, de sair de mim e apagar-me. Reinventar-me.
Preciso constantemente de ter alguém que me lembre que existe uma luz ao fundo do túnel. Por vezes tu estás lá, e ligas a luz no meio da minha escuridão. No entanto, às vezes, estás longe e não me consegues encontrar. Caio muito facilmente com a escuridão: eu tropeço e depois não me consigo levantar. Deixo-me estar, deitada na minha escuridão, onde o tempo passa devagar e a minha mente divaga pelos meus cantos obscuros sem medo. Um dia levanto-me sozinha, mas por enquanto, vou precisar que alguém ligue a luz e me dê a mão para levantar.
Uma boa analogia para as minhas quedas é o uso de saltos altos. É como se eu usasse saltos altos e não soubesse andar neles. Tropeço, caio e magoo-me no tornozelo. Dói um pouco levantar. Então, deixo-me estar no chão… Está escuro, ninguém consegue ver que caí, a não ser que eu grite, e gritar nem sempre é uma boa opção. Por isso, continuo em piloto automático. Desligo emoções e sentimentos. Faço o que é suposto fazer. E continuo. Até me encontrares e ligares a luz.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Quarto de hotel

Entrei na divisão daquele hotel. Estava escuro, pois as persianas estavam fechadas. A penumbra tornava o ambiente mais misterioso.
A cama de aspecto barato ocupava o centro do quarto. Insinuava-se como a rainha da divisão: lençóis brancos, coberta roxa. Nada sensual, mas no entanto incitava aos maiores pecados. A penumbra contribuía em grande parte para tal.
                Consigo imaginar-me a ter-te ali. Deitado. Beijar-te milimetricamente, ter o domínio. Sim, porque não passaria de um jogo de poder… Eu e tu, detentores das capacidades para atingir o êxtase. As minhas mãos no teu pescoço… Vês, como sou capaz de deter o poder?...
Posso imaginar mil e um cenários para aquele quarto… Mas vou-me resignar ao que tenho à minha frente. O mais simples. O mais enfadonho: estou apenas à procura de mais um local para pernoitar e poder passar mais uma noite.
                Recordo-me da noite em que me apercebi que te amava. Estava frio, mas tu és quente. Mantiveste-me quente. Beijavas-me com sentimento. Eu era capaz de sentir o teu amor a emanar de ti em forma de ondas, a entrar no meu corpo. A tentar curar-me. E a conseguir!
O meu coração partido de vários relacionamentos anteriores pesava. E tu, de certo modo, reestruturaste a minha alma. Deste-lhe a forma que outrora tivera e colaste o coração dilacerado. Não tinhas pressa, só entusiasmo. “Acho que te amo”, saiu dos meus lábios inconscientemente.
O meu cabelo desalinhado caia-me pela cara, tapando-me os olhos. Compus-me. “Sim, eu acho mesmo que te amo.” Fazia sentido, de certo modo: eu sentia-me quente por dentro, e tu eras a fonte de calor. Longe arrefecia, perto fervia. 
A janela do meu quarto fornecia a luz suficiente – penumbra. Apercebi-me então porque é que o quarto de hotel me trazia memórias.