sábado, 19 de fevereiro de 2011

Azul

                O castanho dos olhos dela não combina com o azul dos olhos dele. Aliás, nada combina com o castanho dela. Mas ela não se importa: o castanho dela é avelã. Não é escuro, é antes como chocolate-leite. Terno e doce. O azul dele é o céu num dia de Verão, é apelativo. Não é aquele azul cortante, antes aquele que dá vontade de ter um pouco por perto. É amigável, suave, como algodão doce. Os olhos dele assemelham-se a um céu.
Ela é tão diferente dele...  Seja devido à confusão dela, o seu lado escuro que roça sempre a inocência e a ingenuidade, apesar dessas duas características não fazerem parte dela há muito tempo. Ela nunca soube porquê, mas ela sempre teve consciência do que a rodeava. Sentia-se capaz de compreender o mundo dos adultos desde pequena e sempre teve noção que a felicidade é… uma ilusão.
Para além de toda a escuridão que se insinua nela, ela também sempre soube que, no início, há sempre a promessa que vai ser diferente. Mas é sempre igual. Inícios diferentes com fins semelhantes… Porque o percurso pode ser diferente, mas o fim, esse é sempre igual. O fim implica corações partidos. Lágrimas derramadas. Dores psicológicas que custam mais a sarar que as físicas. Não que ela se importe. Não. É mesmo isso que a faz sentir-se viva. A consciência de que o mundo ainda lhe é capaz de infligir dor. A partir do momento em que a dor desaparecer, ela apenas pode supor que está a morrer. E ela não quer morrer. Não ainda, não enquanto parece que é capaz de grandes feitos.

1 comentário:

  1. Não há cor que melhor combine com um castanho avelã que um azul marinho. Representa tão bem a relação de amor entre o mar e a terra e o doce modo como ele a embala e abraça.

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