terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Quarto de hotel

Entrei na divisão daquele hotel. Estava escuro, pois as persianas estavam fechadas. A penumbra tornava o ambiente mais misterioso.
A cama de aspecto barato ocupava o centro do quarto. Insinuava-se como a rainha da divisão: lençóis brancos, coberta roxa. Nada sensual, mas no entanto incitava aos maiores pecados. A penumbra contribuía em grande parte para tal.
                Consigo imaginar-me a ter-te ali. Deitado. Beijar-te milimetricamente, ter o domínio. Sim, porque não passaria de um jogo de poder… Eu e tu, detentores das capacidades para atingir o êxtase. As minhas mãos no teu pescoço… Vês, como sou capaz de deter o poder?...
Posso imaginar mil e um cenários para aquele quarto… Mas vou-me resignar ao que tenho à minha frente. O mais simples. O mais enfadonho: estou apenas à procura de mais um local para pernoitar e poder passar mais uma noite.
                Recordo-me da noite em que me apercebi que te amava. Estava frio, mas tu és quente. Mantiveste-me quente. Beijavas-me com sentimento. Eu era capaz de sentir o teu amor a emanar de ti em forma de ondas, a entrar no meu corpo. A tentar curar-me. E a conseguir!
O meu coração partido de vários relacionamentos anteriores pesava. E tu, de certo modo, reestruturaste a minha alma. Deste-lhe a forma que outrora tivera e colaste o coração dilacerado. Não tinhas pressa, só entusiasmo. “Acho que te amo”, saiu dos meus lábios inconscientemente.
O meu cabelo desalinhado caia-me pela cara, tapando-me os olhos. Compus-me. “Sim, eu acho mesmo que te amo.” Fazia sentido, de certo modo: eu sentia-me quente por dentro, e tu eras a fonte de calor. Longe arrefecia, perto fervia. 
A janela do meu quarto fornecia a luz suficiente – penumbra. Apercebi-me então porque é que o quarto de hotel me trazia memórias.

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